Depois da
análise dos conceitos e modelos teóricos que estão subjacentes na atualidade à
Educação/Aprendizagem de Adultos no excerto do livro da Drª Rita Barros, o
texto de Helena Quintas versa o objeto do ensino/formação, o formando adulto,
procurando caraterizá-lo e às teorias que lhe dizem respeito e que influenciam
as práticas, processos e condições dessa educação/formação.
Ao longo do séc.
XX estruturaram-se opiniões discordantes quanto à conceção da existência de
«idades estanques» na vida humana, no que à questão da aprendizagem diz
respeito. A visão de uma sucessão de diferentes etapas delimitadas, que
percorriam fases de desenvolvimento, seguidas de declínio, numa progressão
padronizada, foi substituída pela ideia, fundamentada em dados de outras áreas
científicas, de que era possível aprender em qualquer fase da vida humana.
Esta
nova aceção desencadeou a discussão entre os diferentes tipos de modelo de
ensino, estremada na distinção entre os conceitos de «andragogia» de Knowles, educação dirigida
a um público adulto, e «pedagogia», práticas aplicadas na educação de crianças
e jovens. Embora se trate de públicos com caraterísticas diferentes, a oposição
«extremada» que Knowles estabeleceu entre as facetas distintivas de ambos, foi
posteriormente posta em causa por outros autores. Estes salientam que as
diferenças estabelecidas não são taxativas em relação aos grupos e há aspetos
que condicionam certos atributos do público adulto. Contudo,as motivações,
propósitos e intencionalidades serão certamente diferentes.
De facto, existe
uma variabilidade no adulto, que não se confina à definição de sujeito
completamente estruturado, para além de qualquer possibilidade de
desenvolvimento, aprendizagem, mudança e o ser completamente «aberto» à
aprendizagem, de Knowles. Essa variabilidade tem implicações diretas na
planificação do Ensino de Adultos , uma vez que não corresponde à realidade a
conceção (aliás vingente) de um público alvo uniforme, nas suas capacidades
cognitivas e estádio de desenvolvimento,
considerando-se um «formando tipo». A conceção de formando deve ter em conta a diversidade a
diferentes e inúmeros níveis: tanto no que diz respeito às suas motivações
externas (estudos de Houle e Long) como às variáveis psicossociais: a diversidade
do desenvolvimento cognitivo; os diferentes traços de personalidade; os
diversos trajetos de vida, todos afetam e condicionam a aprendizagem e afastam-na de uma referência uniforme.
Por outro lado,
se a motivação para a aprendizagem é intrínseca no adulto, como uma inclinação
natural para a competência numa determinada área valorizada, embora
condicionada pela diversidade e enquadramento cultural e potenciada pela
necessidade de construção de significados, é necessário propiciar meios que
mantenham essa motivação.
Wlodkowski responde a esta questão com um modelo com
condições de motivação essencial e critérios para a sua verificação:
o
estabelecimento da inclusão no grupo de aprendizagem, segundo os critérios de
respeito e interrelação, construindo um sentido de comunidade;
o
desenvolvimento de atitudes ao potenciar aprendizagens relevantes, segundo os
critérios de relevância pessoal e capacidade de escolha;
fomento do significado
ou a atribuição de significações ao real através da reflexão, segundo os
critérios de compromisso do formando e o desafio colocado pelo processo de
aprendizagem;
finalmente, a promoção de competências, a ideia de uma
aprendizagem útil segundo os critérios de eficácia do saber e autenticidade dos
conteúdos.
Estes pressupostos implicam uma diferente visão de formação/ensino planificado «a
priori»; a planificação deverá ser flexível e reajustada às necessidades dos
formandos na sua especificidade.
Por outro lado,
se a educação visa a mudança no interior do indivíduo e na sua atitude perante
o coletivo, a forma como esta se deverá operar influencia igualmente a
organização do ensino/aprendizagem. No entanto as teorias prevalecentes sobre
os processos de mudança têm por base a
conceção de um «self» estabilizado, estruturado, assumido, partindo daí para a
interação com o mundo e desenvolvimento.
No entanto os
desafios da sociedade atual conduziram a novas conceções do «self», como uma construção contínua , ou
seja, construído num processo dinâmico que se alarga por toda a existência.,
numa perspetiva multidimensional e multidirecional.
Ora, esta visão do
indivíduo como um «work in progress», com
uma presença ativa no processo de aprendizagem, num processo contínuo de
mudança pela reconstrução e adaptação, conduz à valorização das narrativas de vida e da aprendizagem
dialógica «(...) que permitam que os sujeitos em formação atribuam sentido às
suas experiências de vida.» A história de vida e a valorização atribuídas
à sua experiência são o ponto de partida para uma reconstrução das suas
perceções e relação com o mundo.
Isto realiza-se através da aprendizagem
dialógica, aplicada tendo em conta a abrangência do conceito de inteligência
cultural, fora do quadro tradicional que rodeia o conceito; a dimensão
transformativa dos processos de aprendizagem (segundo Mezirow) através da
criação conjunta, pelo diálogo, dos objetivos de mudança;e a dimensão
instrumental que passa pela decisão conjunta dos objetivos, conteúdos e
procedimentos da aprendizagem.
Eu.
Eu.
Helena Quintas, Educação de Adultos: Vida no Currículo e Currículo na Vida, ANQ
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