Da Andragogia
aos conceitos base de Educação de Adultos:
É de sublinhar a importância do
conceito de «Andragogia» para a concepção e formulação da Educação e
Formação de Adultos, no sentido de providenciar uma proposta de educação de
adultos direccionada a esse mesmo público e tendo em conta as suas
características e especificidades, afastando-se dos modelos tradicionais
escolarizados.
M.S. Knowles deu-lhe estatuto próprio no campo da Educação de
Adultos, tomando como base a intervenção ativa e responsabilização do adulto neste
processo, completada pelos contributos de Paulo Freire no que diz respeito à
componente dialógica e social e os princípios humanistas de Maslow e Rogers, que
articulam os conceitos de aprendizagem e
auto-realização . Será pois, «(...) a arte e ciência de ajudar os adultos a
aprender.» (Barros,2013, p. 50)
Knowles
confere-lhe os seis indicadores base que diferenciam os seus pressupostos da
perspectiva tradicional e cimentarão uma nova abordagem da educação de adultos:
- a valorização
das experiências de vida;
- a capacidade
reconhecida de autonomia e autogestão da aprendizagem;
-aprendizagem em
função de objectivos pessoais;
-orientação da
aprendizagem para a sua aplicação prática;
- a motivação
intrínseca.
Está-lhe ainda
subjacente a noção de um desenvolvimento centrado na aprendizagem, que
se revela um processo de transformação, ou seja realização plena das
capacidades do adulto e sua actualização a nível pessoal e social.
A partir deste
conceito e seu aprofundamento na última década, certas noções tornaram-se
básicas na concepção da educação/Aprendizagem de Adultos:
- a importância
das experiências pessoais, que permitem a reconfiguração das percepções
da realidade e do conhecimento, numa perspectiva mais ampla e complexa: «A partilha das narrativas e das experiências
de vida facilita a reflexão das pessoas que aprendem, no sentido da
diferenciação, atribuição de sentido às experiências e crescimento» (BARROS,
2013,p. 53), remetendo-nos para o conceito de aprendizagem significativa,
como um processo ativo , que articula e organiza a informação, numa atribuição
de significado e num processo de compreensão. Assumem assim um papel
potenciador para a aprendizagem transformadora, que leva a cabo uma
reestruturação dos sistemas de significação pessoal, com a construção de novos
quadros de referência que determinam a visão sobre a realidade.
Está intimamente
ligada à reflexão (capacidade de reconhecimento e controle do processo
de conhecimento) e à autonomia que lhe é inerente;
- aprendizagem
autorregulada/autodirigida- envolvimento consciente e motivado dos
estudantes/aprendentes na «(...) planificação e monitorização dos processos
cognitivos e afectivos que estão implicados na resolução bem-sucedida de tarefas académicas.» (BARROS, 20013, p. 54).
Pressupõe a autogestão do processo de aprendizagem (atividades, objectivos,
fontes, apoios); a automonitorização (responsabilidade sobre o decorrer do
processo); a motivação (expectativas, valorização, etc.). Ou seja «Os
aprendizes assumem a responsabilidade pessoal e o controlo colaborativo dos
processos cognitivos e contextuais que conferem validade e significado aos
resultados da aprendizagem, dominando a dimensão cognitiva e social da
experiência educacional.» (BARROSA, 2013,p. 54);
- este tipo de aprendizagem
liga-se ao conceito de aprendizagem transformativa, a que faz confluir a
experiência que valida o sentido dos conteúdos com a reflexão, que ao
aprofundar os conteúdos através da questionação crítica do quadro de referências
pessoais, permite a tomada de consciência (consciencialização e
autoconsciência) de novos quadros e dos processos utilizados para a sua
aquisição, durante o qual se dá uma reavaliação e reapropriação da experiência.
Assim sendo, o exercício da autonomia e emancipação do sujeito reflexivo conduz
ao pensamento crítico e à capacidade de tomada de decisões perante a realidade,
remetendo-nos para a concepção de aprendizagem significante, que deve
ser pertinente para o indivíduo e permitir um impacto através da transformação
pessoal e do meio que o circunda, adquirida através de processos dialógicos
(abertura ao «outro» numa relação de
comunicação e de intersubjectividade). Com efeito, a aprendizagem existencial
conduz a um processo de desenvolvimento
evolutivo com base nos saberes experienciais, que se opõem às concepções de
saber positivistas. Mas a experiência para ser motor de transformação deve ser
«refletida, reconstruída e conciencializada» p. 56: do confronto e
transformação desse saber experiencial, resultam novos saberes;
-a autonomia,
com base na individualização, que valoriza a visão do indivíduo como ser adulto,
responsável pela sua vivência, valores e decisões, estabelecendo e seguindo o
seu percurso não apenas de vida, mas também de aprendizagem.Nesta autonomia da
aprendizagem, está implícita a motivação intrínseca, ou seja a predisposição/motivação
para aprender , as motivações íntimas e profundas que serão mais relevantes que
as extrínsecas (que, no entanto, estão igualmente presentes).
Desta forma os
modelos actuais de aprendizagem de Adultos escoram-se em três conceitos
básicos: a experiência de aprendizagem; o desenvolvimento do pensamento
reflexivo; a auto-aprendizagem e a aprendizagem autorregulada implicando a
estrutura do ser , na interpretação, experimentação, tomada de consciência; a
do saber, afectando os sistemas pessoais de significação; e do agir, reflectida
nas acções do indivíduo no seu contexto, almejando o desejável desenvolvimento
pessoal, integrando a experiência e sua reavaliação reflexiva, para a tomada de
decisões e construção de novos significados, numa sociedade em mudança
acelerada.
Eu.
Eu.
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