segunda-feira, 24 de junho de 2013

Conceitos Base na Educação de Adultos

Da Andragogia aos conceitos base de Educação de Adultos:   

É de sublinhar a importância do conceito de «Andragogia» para a concepção e formulação da Educação e Formação de Adultos, no sentido de providenciar uma proposta de educação de adultos direccionada a esse mesmo público e tendo em conta as suas características e especificidades, afastando-se dos modelos tradicionais escolarizados. 
M.S. Knowles deu-lhe estatuto próprio no campo da Educação de Adultos, tomando como base a intervenção ativa e responsabilização do adulto neste processo, completada pelos contributos de Paulo Freire no que diz respeito à componente dialógica e social e os princípios humanistas de Maslow e Rogers, que articulam os conceitos de aprendizagem  e auto-realização . Será pois, «(...) a arte e ciência de ajudar os adultos a aprender.» (Barros,2013, p. 50)
Knowles confere-lhe os seis indicadores base que diferenciam os seus pressupostos da perspectiva tradicional e cimentarão uma nova abordagem da educação de adultos:
- a valorização das experiências de vida;
- a capacidade reconhecida de autonomia e autogestão da aprendizagem;
-aprendizagem em função de objectivos pessoais;
-orientação da aprendizagem para a sua aplicação prática;
- a motivação intrínseca.

Está-lhe ainda subjacente a noção de um desenvolvimento centrado na aprendizagem, que se revela um processo de transformação, ou seja realização plena das capacidades do adulto e sua actualização a nível pessoal e social.

A partir deste conceito e seu aprofundamento na última década, certas noções tornaram-se básicas na concepção da educação/Aprendizagem de Adultos:

- a importância das experiências pessoais, que permitem a reconfiguração das percepções da realidade e do conhecimento, numa perspectiva mais ampla  e complexa: «A partilha das narrativas e das experiências de vida facilita a reflexão das pessoas que aprendem, no sentido da diferenciação, atribuição de sentido às experiências e crescimento» (BARROS, 2013,p. 53), remetendo-nos para o conceito de aprendizagem significativa, como um processo ativo , que articula e organiza a informação, numa atribuição de significado e num processo de compreensão. Assumem assim um papel potenciador para a aprendizagem transformadora, que leva a cabo uma reestruturação dos sistemas de significação pessoal, com a construção de novos quadros de referência que determinam a visão sobre a realidade.
Está intimamente ligada à reflexão (capacidade de reconhecimento e controle do processo de conhecimento) e à autonomia que lhe é inerente;

- aprendizagem autorregulada/autodirigida- envolvimento consciente e motivado dos estudantes/aprendentes na «(...) planificação e monitorização dos processos cognitivos e afectivos que estão implicados na resolução bem-sucedida  de tarefas académicas.» (BARROS, 20013, p. 54). Pressupõe a autogestão do processo de aprendizagem (atividades, objectivos, fontes, apoios); a automonitorização (responsabilidade sobre o decorrer do processo); a motivação (expectativas, valorização, etc.). Ou seja «Os aprendizes assumem a responsabilidade pessoal e o controlo colaborativo dos processos cognitivos e contextuais que conferem validade e significado aos resultados da aprendizagem, dominando a dimensão cognitiva e social da experiência educacional.» (BARROSA, 2013,p. 54);

- este tipo de aprendizagem liga-se ao conceito de aprendizagem transformativa, a que faz confluir a experiência que valida o sentido dos conteúdos com a reflexão, que ao aprofundar os conteúdos através da questionação crítica do quadro de referências pessoais, permite a tomada de consciência (consciencialização e autoconsciência) de novos quadros e dos processos utilizados para a sua aquisição, durante o qual se dá uma reavaliação e reapropriação da experiência. Assim sendo, o exercício da autonomia e emancipação do sujeito reflexivo conduz ao pensamento crítico e à capacidade de tomada de decisões perante a realidade, remetendo-nos para a concepção de aprendizagem significante, que deve ser pertinente para o indivíduo e permitir um impacto através da transformação pessoal e do meio que o circunda, adquirida através de processos dialógicos (abertura ao «outro» numa  relação de comunicação e de intersubjectividade). Com efeito, a aprendizagem existencial conduz  a um processo de desenvolvimento evolutivo com base nos saberes experienciais, que se opõem às concepções de saber positivistas. Mas a experiência para ser motor de transformação deve ser «refletida, reconstruída e conciencializada» p. 56: do confronto e transformação desse saber experiencial, resultam novos saberes;

-a autonomia, com base na individualização, que valoriza a visão do indivíduo como ser adulto, responsável pela sua vivência, valores e decisões, estabelecendo e seguindo o seu percurso não apenas de vida, mas também de aprendizagem.Nesta autonomia da aprendizagem, está implícita a motivação intrínseca, ou seja a predisposição/motivação para aprender , as motivações íntimas e profundas que serão mais relevantes que as extrínsecas (que, no entanto, estão igualmente presentes).

Desta forma os modelos actuais de aprendizagem de Adultos escoram-se em três conceitos básicos: a experiência de aprendizagem; o desenvolvimento do pensamento reflexivo; a auto-aprendizagem e a aprendizagem autorregulada implicando a estrutura do ser , na interpretação, experimentação, tomada de consciência; a do saber, afectando os sistemas pessoais de significação; e do agir, reflectida nas acções do indivíduo no seu contexto, almejando o desejável desenvolvimento pessoal, integrando a experiência e sua reavaliação reflexiva, para a tomada de decisões e construção de novos significados, numa sociedade em mudança acelerada.
Eu.


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