quarta-feira, 17 de julho de 2013

Potencialidades e Limitações dos Projectos e Práticas na Educação de Adultos-Desenvolvimento Local

Se no texto que analisámos anteriormente deparamos com uma conceção modelar de uma ação de formação, diferentes questões nos são trazidas pelo texto de Armando Loureiro referente ao papel de organizações não governamentais de desenvolvimento local, situadas no norte de Portugal e a sua prática na área da educação de adultos. Se por um lado constata o aumento da oferta referente à educação de adultos tanto a nível não formal, como a nível institucional e político, com ofertas alternativas às do currículo escolar, questiona-se sobre o seu verdadeiro sucesso a nível do desenvolvimento local e do papel de organizações não governamentais nesse processo.
O autor refere a importância da educação de adultos como «campo» de excelência para o desenvolvimento local, na medida em que tem a potencialidade de identificar os destinatários, as questões, os recursos e as soluções para os problemas de uma área ou localidade. Novamente os pressupostos desejáveis seriam a utilização de uma metodologia participativa, com uma participação dinâmica e activa dos adultos, visando a sua intervenção na comunidade e resolução de problemas. O ponto de partida : os problemas e necessidades reais existentes no local, assim como os recursos, estabelecidos com a participação activa e conhecimentos e experiência dos interessados e logo a sua capacidade crítica e reflexiva sobre uma dada situação. Pressupõe portanto, o diálogo entre os locais e os agentes de formação externos, numa aprendizagem mútua e partilha participativa, bem situado no contexto.
Esta situação afasta-se preferencialmente da visão burocrática e tecnocrática, «imposta do exterior», uniformizadora e centralizada, tomada do topo.
Também esta filosofia deve estar subjacente à formulação e transmissão dos conteúdos, que deve ter por base a tal atitude facilitadora do formador que permita o desenvolvimento dos formandos e sua intervenção plena a nível da comunidade.
Contudo, as conclusões alcançadas neste estudo visando as estruturas organizativas, o produto proposto e o estabelecimento de objectivos e estratégias, apontam para um desajuste entre o ideal teórico e a prática efectivada. Com efeito optou-se por uma prática de proposta de modelos a partir do exterior, sem a conexão com o local e segundo modelos formativos muito rígidos e dirigidos a uma lógica de inserção no mercado de trabalho, imposta pela necessidade de adesão e financiamento de programas da UE, segundo regras e objectivos uniformes, que não se quadram em realidades díspares e únicas e numa perspectiva de desenvolvimento pleno e global. Prática esta que exclui igualmente os recursos e as perspectivas dos locais não chamados a decidir sobre estes modelos. Daí o desencontro de interesses entre formatos propostos e necessidades locais. Os projectos limitam-se a enquadrar-se numa lógica de obtenção de financiamento. Assim há pouca articulação entre as actividades das instituições e acções de educação de adultos e fraca adesão do público, cujo interesse se limita à obtenção de subsídios. O auto-envolvimento da população, as necessidades locais e o desenvolvimento não são metas cumpridas.
Eu.

Armando Loureiro, «As Organizações não governamentais de Desenvolvimento Local e a sua Prática na Educação de Adultos: uma análise no norte de Portugal», in Revista Brasileira de Educação, Vol. 3, maio/agosto, 2008


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