«A atual valorização dos processos cognitivos aceita o sujeito em formação, quer seja o professor ou o aluno, como uma pessoa que pensa, dando-lhe o direito de construir o seu próprio conhecimento. A experiência é entendida como fonte de aprendizagem, a metacognição como um processo que permite refletir sobre o próprio percurso de busca de conhecimento e a metacomunicação como um processo capaz de avaliar a interação.
Para Alarcão (1996) é tempo de ser reflexivo por duas razões: (1) porque está na moda e não podemos ficar indiferentes ao movimento que se gerou em torno da reflexão sob pena de sermos rapidamente ultrapassados; (2) porque o mundo em que vivemos está a sofrer rápidas e profundas mudanças (globalização, poluição, fundamentalismo e extremismos, consumismo, desemprego, individualismo exacerbado, etc.) e como ser pensante que somos interrogamo-nos sobre os valores da nossa existência. E, enquanto professores (a autora é profesora) preocupamo-nos com as finalidades da educação e as metodologias de formação.
Mas, para Alarcão (1996), o conceito de professor reflexivo não se esgota no imediato da ação docente. O professor tem que refletir sobre quem é, o que faz e porque o faz. Enquanto ser reflexivo, o professor tem que ter consciência do lugar que ocupa na sociedade e ser agente de mudança na sociedade, responsabilizando-se pelo funcionamento da escola como organização ao serviço do grande projeto social que é a educação.
Neste contexto, o objetivo da reflexão é a atribuição de sentido que permita um maior conhecimento e uma melhor atuação. As estratégias de formação reflexiva implicam o sujeito num processo pessoal de questionamento do saber e da experiência numa atitude de compreensão de si mesmo e da realidade que o rodeia. Neste processo, deverá o professor/formador, descobrir-se enquanto professor e conhecer as condições em que exerce a sua profissão, tomando consciência do processo reflexivo de formação que propõe aos seus alunos. Nesta perspetiva é essencial que a estratégia de formação, englobada num projeto educativo, revele aos alunos as finalidades, os conteúdos e as estratégias da própria formação, numa atitude de consciencialização dos objetivos mas também do percurso a percorrer. »
ALARCÃO, I. (1996). “Ser professor reflexivo”. In ALARCÃO, I. (org.), Formação reflexiva de professores. Estratégias de supervisão. Porto: Porto Editora, pp. 171-189.
Por Lucinda, 11 de Julho
[Este texto] «(...)sublinha uma contradição que, do meu ponto de vista, emerge nestes tempos (pós)modernos. A complexidade decorrente das novas realidades socioeconómicas com que nos deparamos sustenta a necessidade de reflexão sobre a realidade, sobre os outros e sobre si próprio. Esta reflexão exige tempo e não se compadece com a agitação e a aceleração em que vivemos, para a qual contribuem sentimentos de incerteza e imprevisibilidade. A ponderação que caracteriza o processo reflexivo exige tempo e tempo é algo que ninguém parece ter! A elaboração e implementação de projectos educativos confronta-se com esta contradição. Pretende-se que os resultados destes projectos sejam imediatos, mas o que acontece é que se encontram, frequentemente, dependentes de processos reflexivos que, como já referi, não obedecem a essa lógica imediatista.»
Por Rita Barros, 12 de Julho
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