domingo, 21 de julho de 2013

Desenvolvimento Local e Pessoal: visão assistencialista ou emancipatória?



«Há pouco tempo uma instituição local de cariz cristão pediu-me que, em regime de voluntariado, pudesse acompanhar, através de psicoterapia, algumas pessoas integradas em famílias carenciadas e de baixos rendimentos. A verdade é que o trabalho atual, apesar de procurar alcançar objetivos mais profundos com esta nova valência, continua a ser limitado pelas acções de entrega de bens (roupas, alimentos, medicamentos) a estas famílias e algum suporte caritativo. Penso que seria possível desenvolver uma projeto mais abrangente que fosse de encontro à ideia da educação para o desenvolvimento.»

«Partilho um artigo de Alcides Monteiro “Autonomia e co-responsabilidade ou o lugar da Educação de Adultos na luta pela inclusão social”. Este artigo aborda a “responsabilidade como uma construção a partir de uma estrutura de interacções que conjuntamente com o reforço da capacidade auto-reflexiva e de autonomia contribuem para a inclusão social das populações desfavorecidas e a sua condução ao pleno estatuto de cidadãos e parceiros”. Explora o modo como os Cursos EFA, dirigidos a mulheres desempregadas e residentes em ambiente rural ajudam no exercício da cidadania das mesmas e como as ajuda a participarem na determinação do seu destino.»

http://www.moodle.univ-ab.pt/moodle/file.php/93442/moddata/forum/869722/24788231/Autonomia_e_co-responsabilidade_ou_o_lugar_da_Educacao_de_Adultos_na_luta_pela_inclusao_social.pdf

Por Rogério, 12 de Julho


«(...)Um ponto que me parece extremamente importante e (...) prende- [se] com o carácter mais assistencialista e menos emancipatório que caracteriza muitas das intervenções de desenvolvimento local. A conjuntura socioeconómica actual exige que, em muitas situações, o fornecimento de bens essenciais à sobrevivência seja uma prioridade. No limite, compreende-se bem essa exigência. No entanto, a capacitação desta pessoas com competências para reverter a precária situação em que se encontram implica respostas educativas, de carácter mais estruturado e sistematizado.O mesmo se coloca em relação a intervenções clínicas que, através da psicoterapia, pretendem provocar mudanças em termos de funcionamento psicológico, com vista a uma adaptação mais bem sucedida. Neste contexto, recordo a pirâmide de necessidades de Maslow. Quando as necessidades que se encontram na base da pirâmide não são cumpridas, a satisfação de todas as outras fica comprometida....»

por Rita Barros, 12 de Julho

Estou completamente de acordo com a necessidade de intervenções de carácter emancipatório, mais do que assistencialista ou benemérita, no que ao desenvolvimento local e à educação de adultos, em particular, diz respeito. No entanto como contornar as difíceis condicionantes económicas se, pelo que me pareceu, até o próprio projeto Risc depende em parte de fundos governamentais ou comunitários?
Como atuar num país como o nosso, marcado pela discrepância económica entre classes, pelo exercício caritativo, com um fraca tradição de ação da sociedade civil e exercício de cidadania, face à crise que o nosso Estado social, de construção mais recente do que muitos dos seus congéneres europeus, enfrenta?

Aqui entraria o papel da ótica educativa humanista emancipatória que congregasse os esforços da sociedade civil para ações de formação/transformação das condições. Mas como começarmos? O voluntariado é uma boa hipótese, o associativismo também, mas depararão sempre com condicionantes económicas...Mecenato? Consciência social das empresas? Outra hipótese, mas até que ponto desejada por estas , orientadas pela lógica do lucro e da «devoção» incondicional do trabalhador, que só existe como tal? E qual o futuro papel do Estado neste campo? Questões preocupantes que ficam em aberto nesta época de charneira em que tanto, para o bem como para o mal, se poderá decidir...
Parece-me que teremos de ser nós, cidadãos de boa-vontade, a arregaçar as mangas, numa nova perspectiva menos individualista e egoísta. Talvez reaprender a partilhar e dividir.
Eu.

«Na última parte do terceiro artigo, o autor Dave Richards faz um balanço da atividade da RISC ao longo dos tempos fazendo antever a continuidade da concretização dos objetivos , apesar das conjeturas políticas e económicas. O autor destaca precisamente os fatores que têm contribuído para a sobrevivência da organização nestes tempos conturbados, nomeadamente o compromisso do corpo dirigente, a força de vontade e o espírito de sacrifício em nome de um bem maior e a capacidade de formular projetos inovadores e aliciantes que atraiam patrocinadores, ao mesmo tempo que manifesta a sua preocupação relativamente à existência e disponibilidade, por parte de gerações mais novas, em dar continuidade aos projetos com o mesmo espírito empreendedor e visionário.
Relativamente ao nosso país, penso que falta um pouco esta perspetiva humanista no sentido de haver um coletivo a lutar por um bem maior; ou seja penso que existem muitas vontades e iniciativas por parte de indivíduos com uma visão humanista e associativista que não ganham a devida consistência num contexto de grupo devido a divergências de interesses, de disponibilidades, de mentalidades, por uma por uma perspetiva individualista predominante, (...) e por uma cultura ainda indiferente à dimensão holística e integral do desenvolvimento humano. »
Por Ana António, 12 de Julho



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